Agosto de 2003. Viajamos a Aracaju, SE, para a comemoração do Dia dos Pais na residência do seu filho caçula, Jorge Luiz, que se encontrava com a saúde fragilizada e queria a presença dos pais e dos irmãos neste dia festivo. Havia também outro motivo: inaugurar uma praça construída no segundo andar de sua residência, para homenagear seu pai na comemoração dos seus noventa anos. Foi uma viagem especial justificada pela expectativa de ver a ideia maravilhosa do seu filho concretizada. Mas, ao chegarmos e ao presenciarmos o estado debilitado de Jorge, magro, pálido e sem disposição, ficando a maior parte do tempo deitado, foi aí que meu sogro, uma pessoa disposta, que praticava exercícios físicos, caminhava muito no comércio em busca das mercadorias necessárias para surtir sua lojinha de artigos religiosos e de ouro, sofreu um grande impacto. Seu coração já estava amargurado com a morte precoce de dois filhos (Walter e Samuel) e outro filho amado estava doente. Era demais para o peso dos 90 anos. Sua saúde ficou mais abalada, desde então. Aqui, acolá, uma gripe, pneumonia, intestino preso, a tristeza no seu semblante, a indisposição para o diálogo, para a conversa solta nos almoços dominicais. Na inauguração da praça, ele estava muito entusiasmado, feliz por receber um presente tão edificante de um filho, mas na ora de agradecer a homenagem, a voz tremeu. As lágrimas correram dos seus olhos. Sabia que seu filho não estava bem. Voltamos da viagem, sem o mesmo entusiasmo da ida, e ao chegarmos começamos os preparativos do aniversário dos seus noventa anos. Ficou combinado com os filhos, a reedição do livro de sua autoria Como eduquei meus filhos, com novo visual gráfico, com fotografias dos familiares, capa bem caprichada, para ser entregue no momento da comemoração do seu aniversário, no café da manhã que todo ano os irmãos maçons lhe ofereciam e também comemoravam o aniversário da loja a que ele pertencia, Evolução Nordestina. E assim aconteceu, uma manhã bonita, com os raios dourados do sol aquecendo nossas faces, foi entoado o Hino Nacional e a Bandeira Nacional hasteada por ele. No recinto, um café farto, com muitas guloseimas e no final da solenidade, Carlos Alberto, seu filho, falou e fez a entrega do presente, uma surpresa para ele, que era a reedição do livro, para ele autografar e distribuir com os familiares e com os amigos. Foi um dia muito animado, carregado de muita emoção. Muitos familiares estiveram presentes.
Mas com o passar do tempo, seu Zeca começou a apresentar lapsos de memória e D. Maria, minha sogra, falava que ele não queria mais conversar, não tinha mais animação para nada e nem queria se alimentar, e nem tampouco tomar água. Daniel resolveu levá-lo para um geriatra, achando que fosse depressão senil. O geriatra prescreveu alguns medicamentos, mas o resultado não foi o esperado. Continuava apático, só se animava um pouco nos domingos quando íamos almoçar em sua casa. Mas, fomos diminuindo estes almoços para não sobrecarregar minha sogra, que fazia questão de preparar o almoço. E assim, íamos sempre lá, bater um papo, brincar um pouco, mas o mutismo era o seu linguajar, a sua manifestação de que estava tudo bem. Algumas vezes o levávamos para passear de carro, apesar de ele não demonstrar nenhum entusiasmo. Aceitava somente para agradar dona Maria. Os dias passando e percebíamos cada dia mais o seu acabrunhamento, a sua indisposição para viver. Os membros endurecidos, as pernas não queriam mais obedecer, resolvemos contratar uma fisioterapeuta para acompanhá-lo com exercícios leves, com joguinhos para revigorar o seu raciocínio e o gosto de aumentar o seu tempo de vida com alegria. Até que ele aceitou de bom grado e dava até umas risadas quando Isabel, a fisioterapeuta, chegava para assisti-lo. Ultimamente nem isso ele estava querendo, ficava cochilando durante as seções de fisioterapia.
Ele sempre foi uma pessoa muito independente, talvez por ter nascido no Dia da Independência do Brasil, isto o fez uma pessoa batalhadora, influente e responsável por toda a sua família. Então, no meu entender ele não queria dar trabalho para ninguém, principalmente para sua amada esposa, que ele costumava dizer, “esta é minha mulher”, segurando no seu braço. Com ela foram setenta e dois anos de convivência amorosa, dedicada, harmoniosa e de bom exemplo. Deixa para todos nós, seus filhos, netos, bisnetos, noras, irmã, sobrinhos, cunhada uma grande lacuna. E aquela saudação que ouvia sempre dos seus lábios quando chegava a sua casa: “Como vai”? E também da frase que dizia quando me despedia, segurando em sua mão: “Já vai? tá cedo. Demore mais”. Ah, vou ter saudade e sei que algumas vezes irei chorar.
Foram quarenta e um anos de uma convivência sadia, de muitas experiências e ensinamentos adquiridos com ele. Um legado maravilhoso de amor dedicado à família. Vou guardar como lembrança sua, o seu sorriso, a sua afabilidade para comigo. E encerro a minha homenagem com as palavras que sua bisneta e neta minha, Heloísa, disse:
“Vó Maria, não chore, foi mais uma estrela que chegou no céu.”
Receba esta homenagem como forma de gratidão e estima.
Sua nora,
Tereza Neuma de Macêdo e Silva Marques
Em 8 de setembro de 2010
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A vida completa mais um ciclo. Começa um novo... Esperança e fé para todos.
Zé Valdo
Fortaleza-CE
Seu Zeca Marques fazia parte de minha família. Eu, Jorge, Zé Balbino, Daniel, Rosangela somos irmãos . Hoje seu Zeca e seu Zé Miguel (meu pai) confabulam juntos com Zuca, Samuel, Jorge e Walter capitaneados por Deus e pelo pe.Cícero lá no céu. Que os ensinamentos e ética sejam os norteadores dos que ficam. Do amigo e irmão Iderval Reginaldo Tenório
Salvador-BA.
3 comentários:
AMIGO DANIEL ENVIO MPARA A SUA FAMAILIA UM TEXTO QUE O MEU AMIGO E IRMÃO JORGE FEZ QUANDO DO ESTEVE AQUI EM SALVADOR. ACHEIU OPORTUNO E DE BOM GOSTO PARA O MOMENTO. DO AKJOG,IDERVAL.
LEIA E ACESSE. o blog;
http://iderval.blogspot.com
História de um Dr. da medicina, que se transforma em Dr. da poesia.
Título: DR. INVOCADO!!!
Dr. Iderval é mesmo um doutor diferente... No início foi assim: ele foi ao hotel Íbis em Salvador, me pegou com minha esposa Sandra para mostrar um pouco da cidade de Salvador, depois levou a gente para seu consultório médico, que ele abriu especialmente para nos atender. Comecei então a ver as coisas diferentes, que esse doutor tem: A decoração do seu consultório médico toda invocada com quadros com pensamentos, fotos, desenhos artísticos e uma variedade de peças folclóricas, artesanais, históricas e literárias em fim um verdadeiro acervo de arte e cultura nordestina.
O espanto foi grande, que eu e minha esposa sentimos quando o doutor mandou a gente sentar em duas cadeiras, e ele sentou no birô, colocou uma música nordestina que o som saia num rádio antigo do tempo da vovó, foi bom de mais!!! Por que lembrei dos programas de rádio que eu ouvia antigamente na rádio Araripe de Crato com o locutor Eloi Teles e na rádio progresso de Juazeiro do Norte com o locutor João Sobreira.
Eu já não me sentia doente, nem me lembrava do problema de saúde no meu fígado quando o Dr.Iderval se transformou num poeta nordestino, começou a recitar poesias e contos de literatura de Cordel. A cada poesia que ele lia, algumas até decoradas, eu e Sandra chorávamos de emoção e riamos de alegria ao ver aquela interpretação artística perfeita com sua voz de matuto nordestino, a cada declamação eu sentia voltar ao passado que ele estava me mostrando num cenário, onde sentia a presença de Luiz Gonzaga, Patativa do Assaré, Padre Cícero, Lampião, Maria Bonita, Romeiros nordestinos de chapéu de palha, Meu Mano e sua Banda de Pífano, e no fundo do cenário a cidade de Juazeiro do Norte, a Serra do Horto e a Chapada do Araripe. Nunca tive na minha vida um momento saudoso como aquele para me lembrar junto com meu melhor amigo de infância o meu passado tão feliz e inesquecível que desfrutei na cidade de Juazeiro do Norte.
Depois o Dr. da poesia se transformou em Dr. da Medicina, pediu meus exames com relação ao meu problema Gastro Hepático e por fim, fez uma valiosa avaliação médica.
Escrito por Jorge Luiz Almeida Marques.
Para: Dr. Iderval Tenório Camilo.
Salvador-BA 13/12/07
História de um Dr. da medicina, que se transforma em Dr. da poesia.
Meu caro Jorge, deparei-me agora com seu texto em que relembra coisas boas da nossa Juazeiro de ontem.... Fiquei feliz pela citação, alem de todo o conteúdo, do nome do grande Elói Teles, nosso locutor querido da Rádio Araripe do Crato, como também do meu nome, na Rádio Progresso. Saudades, muitas saudades!!!
João Sobreira Rocha
Rádio Universitária de Goiania
( www.radio.ufg.br )
Com tristeza li a noticia da morte do Sr. Zeca Marques, só hoje descobri esse blog, maravilhoso, vou visitar sempre,fui vizinha dele por muitos anos, morei nas casas de Carlos Cruz,hoje Memorial,minha vò e minha mãe vinham de Teresina comprar joias e outra coisas na lojinha dele,só tenho boas recordações,tenho saudades do tempo q sentavamos na calçada do tiro de Guerrae ficavamos conversando até tarde da noite, era bom demais,meus filhos nasceram nessa casa,Kenia e Wanderton, hoje moro em Fortaleza, mais sempre vou a Juazeiro,pois mesmo sendo de Teresina, Juazeiro é minha terrs do coração.Um grande abraço. Duduia duiabelem@bol.com.br
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